Em
3 de agosto de 1946 dava-se a posse do Dr. José Nicodemos da Silveira Martins
como Prefeito de Mossoró, por nomeação do Interventor do Estado, cujo mandato
se prolongou até 6 de março de 1947.
José
Nicodemos da Silveira Martins nasceu na cidade de Areia Branca, Rio Grande do
Norte, a 7 de julho de 1916, sendo filho de Francisco Sales da Silveira
Martins, magistrado íntegro e com serviços prestados em diversas comarcas, e de
dona Armanda Franco da Silveira Martins, nascida no vizinho Estado do Ceará.
Bacharelou-se
pela Faculdade de Direito do Ceará, na turma de 1940. Foi juiz municipal,
promotor público e delegado regional de polícia, com jurisdição em toda a zona
Oeste do Estado.Chegou por nomeação ao cargo de Prefeito de Mossoró, em
substituição a Augusto da Escóssia. Teve movimentada atuação e na qualidade de
deputado estadual trabalhista mais votado. Tomou parte nos trabalhos da
Assembleia Legislativa em dois períodos consecutivos e com atuação destacada.
Ocupou ainda o cargo de chefia na Caixa Econômica e no antigo SAPS, ambos em
Natal. No Rio de Janeiro, foi diretor da Divisão de Administração do
Departamento Nacional de Mão-de-Obra.
Durante
a sua curta administração aconteceu o I Congresso Eucarístico de Mossoró,
ocorrido de 27 de setembro a 3 de outubro de 1947, contando com a presença de
oito bispos, muitos sacerdotes e milhares de fiéis. O dia 3 de outubro foi
transformado em feriado municipal pelo Prefeito Nicodemos em homenagem à
memória dos mártires de Uruaçu, Cunhaú e Ferreiro Torto.
Um
caso curioso ocorrido em sua gestão foi à prisão de João Romualdo, conhecido
como \"homem cabelo\". Era um remanescente do grupo de fanático do
beato José Lourenço, que vivia na Comunidade do Caldeirão. A Comunidade do
Caldeirão da Santa Cruz do Desterro nasceu no Sertão do Cariri, no Ceará. Foi
fundada em 1926 pelo beato José Lourenço, numa propriedade pertencente ao padre
Cícero Romão Batista. Ali foi fundada a Comunidade do Caldeirão juntamente com
500 famílias, vindas de todo o Nordeste, atraídas pela pregação do beato.
Pontos fortes dos seus ensinamentos eram a igualdade e a interajuda, a
propriedade comunitária e a autossuficiência. O projeto foi tão bem sucedido,
que durante dez anos as condições adversas do sertão eram superadas pelos
habitantes do Caldeirão. Construíram as habitações, a igreja, a escola e
cultivavam os campos, criavam gado bovino e caprino e fabricavam os objetos
para trabalhar. Juntamente com o charque, vendiam nas povoações vizinhas do
Juazeiro e do Crato objetos de artesanato. Com o produto da venda compravam
bens essenciais que não podiam produzir. O modo de vida da Comunidade do
Caldeirão acabou por despertar o interesse dos fazendeiros da região, que com o
passar do tempo começaram a ter dificuldades em encontrar mão de obra barata e
abundante. Seguiu-se uma campanha contra a Comunidade do Caldeirão acusada de
práticas comunistas.O Brasil era governado, nesta ocasião por Getúlio Vargas
(1937-1945) que mantinha uma política ativa contra o Comunismo. Sob pretexto de
que o Caldeirão era um reduto de rebeldes armados, a Polícia Militar do Ceará,
comandada pelo capitão Bezerra, destruiu por completo, em setembro 1936, a
Comunidade do Caldeirão. A localidade do Caldeirão foi completamente arrasada,
ma, contrariamente ao que se dizia, não foram encontradas armas ou qualquer
outro indício de sublevação desta comunidade. Os poucos sobreviventes,
incluindo o beato José Lourenço, fugiram para a Chapada do Araripe, no Ceará. João
Romualdo, o \"Homem Cabeludo\", depois da destruição do Caldeirão,
fugiu para a mata fechada, e por sete anos conviveu apenas com as feras e com
os pássaros, sem nenhum contato com um ser humano. Um dia apareceu por Mossoró
assustando as pessoas com o seu aspecto selvagem. Foi preso e enviado a Natal.
Dizia que estava cumprindo uma pena perante Deus. O caso foi noticiado pela
imprensa da época.
José
Nicodemos foi substituído por José Paulino de Souza no comando da municipalidade.
Eram tempos difíceis para os gestores municipais. Em menos de um ano de
mandato, não foi possível realizar grandes obras. Mas fez o bastante para ter o
seu nome na galeria das personalidades mossoroenses.
FONTE
– GERALDO MAIA